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  15/02/2017 

As mulheres vão parar neste 8 de março!

As mulheres vão parar neste 8 de março!

Por Giovanna Henrique Marcelino e Giulia Tadini*

A partir do forte movimento contra a violência de gênero que tomou a América Latina sob a consigna do “Ni Una a Menos”, as feministas argentinas iniciaram um chamado à construção de uma greve internacional de mulheres, a ser realizada no próximo dia 8 de março. Diversos países já aderiram à convocatória. Na semana passada, após a grande Marcha de Mulheres que tomou os EUA no dia 21 de janeiro, após a posse de Trump, um manifesto foi lançado por Angela Davis, Nancy Fraser e outras intelectuais e ativistas norte-americanas, reiterando o convite das argentinas, para que as mulheres do mundo todo fortaleçam este movimento.

Uma nova onda de luta das mulheres

Como muito bem pontua o manifesto redigido pelas feministas norte-americanas, o ascenso da luta das mulheres e a forma como ele vem se expressando em diversos países do mundo reforça fortemente a hipótese de que vivemos o início de uma nova onda feminista. Nesse sentido, é importante destacar como não é possível entender esse novo momento que se inaugura na história da luta das mulheres como um fenômeno isolado ou independente. Pelo contrário, ele possui nexos profundos com uma mudança fundamental que se processou na conjuntura mundial nos últimos anos, especialmente após a crise econômica de 2008.

Basta olharmos para os principais movimentos de resistência contra os planos de austeridade e por democracia real dos 99% contra o 1%, surgidos em contrapartida ao cenário de crise e retirada de direitos – como a Primavera Árabe, a ocupação de praças na Espanha, Occupy Wall Street, entre outros. Em todos eles, o protagonismo das mulheres foi notável. Além disso, assistimos, a partir de 2011, o fenômeno mundial das Marchas das Vadias, que abriu um circuito de atos feministas pelo mundo, marcados pela participação de uma nova geração de jovens, com um novo perfil ativista.

Mais recentemente, as marchas gigantescas na Argentina, Chile e no Peru por #NiUnaMenos, a legalização do aborto no Uruguai, o debate sobre a violência contra as mulheres na Índia, a resistência das mulheres polonesas contra mudanças na lei do aborto no país, e nos solidarizamos e nos inspiramos nas mulheres curdas, que lutam contra o Estado Islâmico.

Em todo lado que olhamos, o movimento feminista e o protagonismo das mulheres está mais forte. E o Brasil não está fora desta dinâmica.

A primavera feminista: de 2015 à 2017

Desde 2015, vivemos uma Primavera Feminista no nosso país. Dois momentos em especial foram marcantes e essenciais para seu desdobramento: os atos contra Eduardo Cunha, que tomaram as ruas em várias cidades do país; e a Marcha Nacional das Mulheres Negras, que ocupou a Esplanada dos Ministérios em Brasília. Em 2016, novamente as mulheres foram em peso às ruas, compondo atos de milhares contra a cultura do estupro, após um caso bárbaro ocorrido no Rio de Janeiro, além de ocuparem o processo eleitoral nos municípios, elegendo uma Bancada Feminista para representar as vozes e reivindicações políticas que tomaram as ruas no ano anterior.

Logo no início de 2017, milhares de mulheres também se manifestaram em Campinas, no interior de São Paulo, após o trágico feminicídio que ocorreu na virada do ano. Na conjuntura nacional, seguimos vivendo uma crise política, econômica e social sem precedentes. O governo ilegítimo de Temer segue mantendo grandes índices de impopularidade. A casta política segue envolvida em casos de corrupção. A crise da segurança pública está cada vez mais grave.

Nesse contexto, tudo indica que a Primavera Feminista deve continuar firme, como forma de resistência aos planos de ajuste, cortes e retiradas de direitos. As mulheres continuarão sendo um setor fundamental para construção de alternativas. Por isso, o 8 de março será um ato importante para dar sentido à indignação latente que vem se manifestando localmente em nosso país. A resistência à agenda que tem sido aplicada no Brasil pelo Temer e pelos demais governantes pelo mundo será liderada por mulheres.

Nos estados em que os movimentos sociais, as categorias e entidades de classe já tem produzido respostas aos pacotes de ajuste, por exemplo – como é o caso da greve no ES frente à grave crise na segurança pública – as mulheres têm sido fundamentais na luta. No entanto, existe uma certa dificuldade de articulação nacional, isto é, uma resposta comum à crise social, econômica e política à nível nacional. Nesse sentido, o 8 de março pode mostrar um caminho de como devemos seguir.

Acreditamos que seja fundamental afirmarmos alguns pontos políticos para a luta feminista nesse ano:[...]

Além disso, acreditamos na defesa de um perfil para a luta feminista, bem como para o patamar internacional no qual ela se desenvolve hoje. Afinal, desde seu surgimento, o feminismo não constitui um campo homogêneo. Possui diferentes concepções, estratégias políticas e matrizes teóricas, que vão do espectro anarquista ao liberal. Acreditamos que o atual momento exige uma política feminista que seja sensível aos processos internacionais e à construção de alternativas sociais e políticas frente à crise que assola a vida do povo.

Os Estados Unidos tem sido palco de importantes debates nesse sentido. Um setor amplo do movimento, por exemplo, vem debatendo a necessidade atual de um “acerto de contas” com um tipo de feminismo denominado “empresarial”, que domina os meios de comunicação e marketing, sendo líder em fabricar peças publicitárias que pregam um tipo de falso empoderamento, baseado em ideias liberais e de cunho individualista, como a de “corporativismo feminista”.

Em contrapartida a esse perfil, e somando-se aos fenômenos que sinalizam o surgimento de uma nova onda feminista, o “Feminismo dos 99%” foi delineado, como síntese de um tipo de feminismo que conecta a luta das mulheres aos processos de luta anticapitalista, muito inspirado nas manifestações que surgiram em 2011, a partir da consigna dos 99% contra a desigualdade social encarnada no 1% que sustenta hoje a riqueza global.

Nesse sentido, o feminismo é entendido como uma força social e política que trabalha em concerto com outros movimentos sociais na luta pelo fim das desigualdades, e que combina as preocupações econômicas com o aspecto cultural da diversidade daqueles que propriamente compõe os 99% – mulheres trabalhadoras, negras, trans, imigrantes, refugiadas, desempregadas, etc. – combinando o problema do machismo ao do racismo, homofobia, transfobia, xenofobia.

Acreditamos que os atos previstos para o 8 de março serão um grande momento para desenvolvermos e aprofundarmos ainda mais essa conexão e para que as mulheres sejam linha de frente na construção de um movimento geral por um outro futuro.

Mulheres do mundo, uni-vos!

Há uma grande expectativa com o 8 de março deste ano. O ato ocorrerá após a Marcha das Mulheres que reuniu cerca de 500 mil pessoas só em Washington, concomitante a cerca de 600 marchas irmãs espalhadas em todo mundo. Há 100 anos atrás, as mobilizações de rua e nas fábricas protagonizadas pelas mulheres russas foram fundamentais para os rumos que a história tomou naquele país, culminando na revolução de outubro do mesmo ano:

Em 8 de março de 1917, uma ação política das operárias russas contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que desencadearam na revolução de fevereiro. O líder Leon Trotsky registrou assim esse evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”.

A situação econômica e política da Rússia era então insustentável. Mais de 90 mil pessoas marcharam, exigindo pão e paz. Os protestos e as greves subseqüentes culminaram na queda da monarquia. Alexandra Kollontai, uma das principais dirigentes feministas da revolução de outubro, afirmou que “o dia das operárias em 8 de março de 1917 foi uma data memorável na história”.[6]

Talvez essas mulheres não tivessem à época dimensão do feito histórico que estavam por concretizar. O 8 de março ficou para a história e até hoje saímos às ruas para lutar por nossos direitos. Cem anos depois, não podemos deixar de esquecer o quão imprescindíveis foram essas mulheres para o atual estágio da nossa luta.

Que o 8 de março de 2017 também comemore esse um século de organização feminista. Que sejamos todas nós cada vez mais sujeitos históricos das transformações que urgem em nossos tempos. Que novas vitórias estejam por vir!

Notas:

[1] https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/07/por-uma-greve-internacional-militante-no-8-de-marco/

[2] http://portaldelaizquierda.com/2016/10/a-primavera-feminista-e-as-eleicoes-municipais-de-2016/

[3] A importância das mulheres na greve dos PMs do Espírito Santo e Rio de Janeiro: https://www.facebook.com/juntascoletivo/photos/a.174808072644410.18814.161718410620043/702522406539638/?type=3&theater

[4] A Reforma da Previdência e as mulheres: https://juntos.org.br/2017/02/a-reforma-da-previdencia-e-as-mulheres/

[5] Como pontua Angela Davis: “O feminismo do “faça acontecer” e outras variantes do feminismo empresarial falharam para a esmagadora maioria de nós, que não têm acesso à autopromoção e ao avanço individual e cujas condições de vida só podem ser melhoradas através de políticas que defendam a reprodução social, a justiça reprodutiva segura e garanta direitos trabalhistas. Como vemos, a nova onda de mobilização das mulheres deve abordar todas essas preocupações de forma frontal. Deve ser um feminismo para 99% das pessoas”.

[6] http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/conquistas_na_luta_e_no_luto_imprimir.html

Fonte: https://juntos.org.br/2017/02/as-mulheres-vao-parar-neste-8-de-marco/

*Giovanna Henrique Marcelino e Giulia Tadini são do Coletivo Nacional do Juntas

 

Fonte: Coletivo Juntas!
Link: https://juntos.org.br/2017/02/as-mulheres-vao-parar-neste-8-de-marco/
Última atualização: 15/02/2017 às 10:29:56
 
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